O Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) e o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), juntamente com o Movimento Negro de Lages Obatalá, realizam na quinta-feira (16), às 20h, a terceira live do total de quatro programadas. O projeto, que tem como objetivo discutir o racismo na sociedade brasileira, promoveu dois encontros, o primeiro sobre o racismo no cotidiano e o segundo a respeito do feminismo negro. A live será transmitida pelo facebook do Neab. Participaram desta rodada, que tem como tema “O papel da educação na reprodução do racismo”, mulheres professoras de diferentes gerações. Haverá tradução para libras.
A professora Laísa Cristina Pereira da Silva, observa que, mesmo após 130 anos do fim da escravidão, o Brasil não fez, na educação, um caminho para eliminar a desigualdade entre brancos e negros. “As desigualdades de acesso e aprendizagem presentes na educação básica arrastam-se por toda a escolaridade. Levando isso em conta, foram criadas as chamadas políticas de cotas, que visam corrigir a dívida histórica que o Estado brasileiro tem com a população negra. Para mim, não teremos uma sociedade racial mais justa enquanto não colocarmos a educação como o ponto central dessa mudança”, explica.
A educação de qualidade é um direito de todos os brasileiros mas, na prática isso não acontece. Segundo a professora, é essencial colocar em prática as leis que buscam combater o preconceito racial nas escolas. A Lei 10.639, sancionada em 2003, por exemplo, determina o ensino obrigatório da cultura e história afrobrasileira na Educação pública e privada. Ela recorda que, de acordo com o Censo Escolar 2015, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), um quarto das escolas públicas não abordam o racismo no currículo. "Quatro em cada 10 instituições não pautam o tema da desigualdade social e 52% do total não tratam da diversidade religiosa. É necessário debater esses temas se quisermos construir uma sociedade mais justa e livre da desigualdade racial”, defende.
O doutor em antropologia social e professor do PPGE da Uniplac, Geraldo Augusto Locks, reflete que a formação cultural serrana envolve diversos grupos étnicos. No século XVIII quando Antonio Correia Pinto de Macedo se descolou com interesses geopolíticos e militares e fundou o povoado que viria a ser Lages, o Brasil era colônia de Portugal. “Segundo alguns historiadores ele teria trazido consigo, 114 negros escravizados. Desde o princípio somos uma sociedade diversa, é um componente fundamental da nossa composição cultural, não somos monocultural, diferentes grupos étnicos formam a nossa sociedade.” E, segundo ele, a escola deve ter essa perspectiva histórica, através da reflexão crítica, deve evidenciar a sociedade socialmente desigual, que colocou os afrodescentes em posição de inferioridade e isso pode ser observado em diferentes situações, no mundo do trabalho e nas relações sociais. “Essa é uma dívida que deve ser resgatada na nossa sociedade, e a educação tem um papel relevante nisso, na medida em que toda a comunidade escolar e seu entorno tomar consciência e trabalhar com efetividade contra qualquer tipo de preconceito e pela democracia racial”, explica.
Para Dionathan Sousa, jornalista e conselheiro Municipal de Cultura na pasta de Movimentos Étnicos e Artesanato, as discussões sobre racismo sempre fizeram parte das práticas educacionais do movimento negro, o que muda agora são os canais usados. “Esse projeto vem ao encontro do movimento antirracista que cresce no mundo, dentre eles o norte-americano “Black Lives Matter”. Em nossas lives temos alcançado um público majoritariamente jovem, isso demonstra o aumento de interesse pelo discussão racial pelos jovens em nossa cidade”, comenta.
Conheça as convidadas:
Laísa Cristina Pereira da Silva, professora de Educação Física da rede estadual de ensino, especialista em educação infantil e anos iniciais, árbitra estadual de futebol 7, idealizadora e coordenadora do projeto Laísa FC, integrante do Obatalá e bailarina e coreógrafa do Grupo de Dança Afro Erê. Joseane dos Santos, pedagoga. Ivana Aparecida Oliveira, pedagoga, mestra em Educação pela Uniplac, supervisora escolar e integrante do Neab. Val Vieira, pedagoga, especialista em psicopedagogia, mestra em Educação pela Uniplac, professora universitária e contadora de história. Saionara Aparecida da Silva Ramos Campos, pedagoga, pós-graduação em educação infantil e anos iniciais, mestranda em práticas transculturais, professora do ensino fundamental do município de Lages e professora universitária.
Os interessados podem se inscrever para receber certificado por meio do link: https://bit.ly/3fwbgzm
Confira a página do Neab clique aqui.
Texto: Suzane Faita